Ás
vezes lembro-me de tudo o que fiz quando era criança, quando era um adolescente
loucamente apaixonado e hoje não me recordo de tanto o que fiz… Atualmente.
Vejo-a passar vezes sem conta por mim neste banco verde de jardim, sempre com
os seus divinos saltos altos e os vestidos a cair pelo ombro que lhe criam a
silhueta perfeita. Aqueles seus olhos verdes lembram-me uns outros olhos… Os da
nossa filha.
Vera era a rapariga mais bonita da vizinhança e eu não dizia isto por ela ser a minha pequena e adorada filha… Dizia porque era a verdade que circulava de boca em boca pelos rapazitos loucos pela sua beleza atenuante. Vera era inteligente e sabia sempre o que fazer para alguém se sentir mil vezes melhor, era o seu talento. Ah! Como me lembro tão bem de acordar com as suas mãos sedosas a pedirem-me alguma coisa, como era travessa aquela menina de sorriso bonito tal como a sua mãe, a minha mulher que ainda hoje amo muito. Lembro-me daqueles últimos meses como se fosse ontem ou até mesmo hoje, infelizmente eu lembro-me.
Chegar a casa depois de um louco dia de trabalho e ver a minha filha caída no chão quase sem cor, apressei-me a correr para ela e levei-a para o hospital ligando para Clarisse, a minha mulher. Ela ia encontrar-me lá. Fui impedido pelos médicos de entrar na saleta para onde levavam a minha pequena já grande, independentemente da idade sempre fora a minha pequena e única menina. Andei para trás e para a frente enquanto esperava por notícias de alguém… De tanto andar para a frente e para trás, acho que poderia fazer um buraco no chão.
Vera era a rapariga mais bonita da vizinhança e eu não dizia isto por ela ser a minha pequena e adorada filha… Dizia porque era a verdade que circulava de boca em boca pelos rapazitos loucos pela sua beleza atenuante. Vera era inteligente e sabia sempre o que fazer para alguém se sentir mil vezes melhor, era o seu talento. Ah! Como me lembro tão bem de acordar com as suas mãos sedosas a pedirem-me alguma coisa, como era travessa aquela menina de sorriso bonito tal como a sua mãe, a minha mulher que ainda hoje amo muito. Lembro-me daqueles últimos meses como se fosse ontem ou até mesmo hoje, infelizmente eu lembro-me.
Chegar a casa depois de um louco dia de trabalho e ver a minha filha caída no chão quase sem cor, apressei-me a correr para ela e levei-a para o hospital ligando para Clarisse, a minha mulher. Ela ia encontrar-me lá. Fui impedido pelos médicos de entrar na saleta para onde levavam a minha pequena já grande, independentemente da idade sempre fora a minha pequena e única menina. Andei para trás e para a frente enquanto esperava por notícias de alguém… De tanto andar para a frente e para trás, acho que poderia fazer um buraco no chão.
- Marcel! – ouvi Clarisse e apenas a abracei. – O que se
passa com a nossa menina?
- Eu…Não sei. – larguei o abraço e deixei-me isolado junto á
janela da sala enquanto olhava para o vazio.
Lembro-me
do momento da verdade. Do momento em que caí de joelhos no chão ao ver Clarisse
implorar para que Deus devolvesse a nossa menina sã e salva. Para que leva-se
aquele cancro acabado de descobrir, aquele cancro tão avançado que nenhum de
nós desconfiava que uma menina tão linda pudesse ter. Uma menina tão frágil que
não teve tempo de lutar contra o lado mau da vida, Deus estava a ser injusto…
Não lhe tinha dado uma oportunidade sequer… Maldito sejas! Lembro-me de gritar
isso enquanto permanecia no chão de joelhos e de cabeça baixa… Senti as mãos de
Clarisse procurarem o meu abraço e quando vi os seus olhos… Chorei como se
fosse a maré e ela estivesse a encher… Aqueles olhos iguais aos de Vera…
E aquele caixão tão pequeno com o seu belo corpo no interior…Não era o sítio nem era o futuro que eu queria para a minha preciosa. E ver a terra cair-lhe por cima era inevitável para mim. Abandonei o seu funeral a meio deixando Clarisse a par do resto da família. Por amor de deus, eu deixei-a lá sozinha!
Bati com a cabeça no volante vezes sem conta fazendo com que a buzina do carro apitasse o mesmo número de vezes. Eu não queria estar com ninguém, só queria a minha menininha sã e salva em casa a cantarolar as músicas que passavam na rádio enquanto fazia os deveres de casa. Seria pedir muito?
E aquele caixão tão pequeno com o seu belo corpo no interior…Não era o sítio nem era o futuro que eu queria para a minha preciosa. E ver a terra cair-lhe por cima era inevitável para mim. Abandonei o seu funeral a meio deixando Clarisse a par do resto da família. Por amor de deus, eu deixei-a lá sozinha!
Bati com a cabeça no volante vezes sem conta fazendo com que a buzina do carro apitasse o mesmo número de vezes. Eu não queria estar com ninguém, só queria a minha menininha sã e salva em casa a cantarolar as músicas que passavam na rádio enquanto fazia os deveres de casa. Seria pedir muito?
No
terceiro mês da sua morte, saí de casa. Ver aqueles olhos verdes de Clarisse
era como ver Vera num dia de felicidade. E assim abandonei-a, tal como a
pequena me abandonara. Passei semanas a trabalhar para puder viver num pequeno
apartamento, quando acordei para a realidade…Não tinha de trabalhar mais, não
tinha ninguém a quem oferecer prendas… Estava sozinho e na rua.
Todas as manhãs durante estes últimos dez anos á mesma hora, Clarisse passa por este banco de jardim de mala no ombro, com os seus divinos saltos altos e os vestidos que lhe dão a silhueta perfeita. Todas as manhãs finge que não me vê. Mas eu não me importo… Porque estou ali para me recordar dos olhos da minha pequena.
Todas as manhãs durante estes últimos dez anos á mesma hora, Clarisse passa por este banco de jardim de mala no ombro, com os seus divinos saltos altos e os vestidos que lhe dão a silhueta perfeita. Todas as manhãs finge que não me vê. Mas eu não me importo… Porque estou ali para me recordar dos olhos da minha pequena.
É da minha e completa autoria.
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